Uma pesquisa sobre a elite da administração pública, os ocupantes de cargos de Direção e Assessoramento Superiores níveis 5 e 6 e de Natureza Especial — 1.146 nomeações nos governos Fernando Henrique, 1.150 no primeiro governo Lula da Silva e 1.198 no segundo e 1.233 nomeações em 2011 e 2012 no governo Dilma Rousseff —, coloca luz sobre as relações partidárias, sindicais e políticas das nomeações e traz uma novidade intrigante, diante da crise de relacionamento entre ela e o PT: Dilma fez o mais partidário dos governos petistas.
O trabalho “Elites burocráticas, dirigentes públicos e política no Poder Executivo do Brasil, 1995-2012”, da cientista política Maria Celina Soares D’Araujo, da PUC-Rio, compara o perfil dos altos dirigentes públicos no Brasil de 1995 a 2012, num total de 18 anos de gestão pública federal.
Nas nomeações dos três presidentes são detectados diferentes padrões de recrutamento que ajudam a entender compromissos políticos e perfil ideológico de cada um, mesmo quando pertencentes ao mesmo partido.
A professora Maria Celina identifica no trabalho que profissionalização, educação formal e experiência pautaram as indicações, mas “o tom político-partidário e associativo não pode ser minimizado, especialmente quando se analisa o primeiro governo Lula da Silva”.
Ao identificar haver qualificação e profissionalização entre esses dirigentes, o trabalho desmente “a mítica de que esse seja espaço para clientelismo deslavado”. Há grandes variações em cada governo, mesmo quando o partido do presidente permanece o mesmo.
A julgar por vínculos com sindicatos, Maria Celina diz que “Dilma está mais perto de Fernando Henrique do que de Lula da Silva, em especial, em seu primeiro governo”.
O governo Lula, especialmente o primeiro, demonstrou maior compromisso com bases sindicais, não só entre filiados a sindicatos como em relação a dirigentes de centrais. Nada menos que 45,3% dos cargos foram ocupados por sindicalistas, e 10,9% por membros de centrais sindicais no primeiro governo Lula, caindo no segundo governo para 36,1% de membros de sindicatos e subindo para 10,9% de filiados a centrais. No governo Dilma há apenas 21% de sindicalistas, e 3,5% de membros de centrais sindicais.
Da mesma forma, o envolvimento desses dirigentes com movimentos sociais, associações comunitárias e profissionais são mais expressivos nos governos do PT, em especial no primeiro governo Lula, o que o torna “um caso único de forte envolvimento entre altos dirigentes, partidos, sindicatos e movimentos sociais”.
Fonte: Merval Pereira - O Globo/blog do Noblat