
Numa fase em que administra queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, insatisfações na base e antecipação do debate sucessório e ainda busca compreender a exclusão dos movimentos sociais e sindicatos dos protestos de junho, o PT quer resgatar suas raízes.
Tenta se reposicionar como o legítimo representante das massas, recuperar a sintonia com as ruas ao mesmo tempo em que valoriza o governo e, quem sabe, soergue Dilma.
Na “Resolução sobre a situação política” (LEIA AQUI), aprovada pelo Diretório Nacional na última
segunda-feira o partido resume a tarefa “multifuncional”:
“A condução de uma nova etapa do projeto popular exige retificações na linha política do PT e do governo, que se reflitam na atualização do programa”.
Também revela que cabe a ele “propor um novo pacto político programático, democrático e popular, capaz de unificar os partidos da base que dialoguem com essa nova conjuntura e movimentos sociais”.
A volta ao passado segue orientação do ex-presidente Lula que, no artigo publicado no The New York Times, no mês passado, afirmou que o PT precisava se reaproximar dos movimentos sociais.
O próprio secretário geral do partido, Paulo Teixeira, reconhece que o partido tem que fazer essa autocrítica.
“A questão é que o partido se distanciou dos movimentos sociais ao assumir o poder e priorizar cargos e gestões”, disse em tom de “mea culpa”. Lula, que segue com o status de maior liderança do partido, indicou também que o PT precisa de renovar.
Candidato à presidência nacional – a eleição marcada para novembro -,Teixeira reforça o entendimento do ex-presidente ao enfatizar que o PT precisa inaugurar nova postura diante da população e de legendas parceiras.
“Temos que nos comunicar melhor com a sociedade e recuperar a voz nas alianças. Não deveremos deixar que o nosso programa se dilua no contexto de coligações. Não
se trata de deixar de fazer alianças, amplas, inclusive. Mas tempos que estreitar relações com os partidos de esquerda, historicamente ligados a nós”, ressalta.
“Temos dois pontos a corrigir: o afastamento dos movimentos sociais e a pouca comunicação das nossas propostas. Temos que ter mais clareza, mas nitidez”, reafirma.
O secretário reconhece que o desafio de voltar às raízes é “hercúleo” em decorrência da queda na avaliação do governo de Dilma e da aproximação das eleições.
Somam-se ainda na conta da “refundação” a manutenção das políticas de governo, a recuperação da gestão e a contenção das insatisfações, inclusive de parlamentares de siglas aliadas.
“Temos que cobrar mais fidelidade. Há segmentos não leais ao governo. Tem que ser aliado na saúde e na doença”, afirmou Teixeira. Para ele, o PT está desconfigurado e precisa se reencontrar.
Esse retorno ao começo pode não ser um caminho possível, na avaliação do professor Adriano Oliveira, do Departamento de Ciência Política da UFPE.
Para ele, sindicatos e movimento sociais estão falidos. O próprio governo Lula, avalia, retirou poder das duas instâncias.
“Hoje Dilma que ser socorrida por sindicatos e esses movimentos. Mas eles estão desacreditados”, afirma.
Denilson Bandeira Coelho, professor do Instituto de Ciências Políticas da UNB, observa que ir atrás das origens é estratégia recorrente em tempos de crise no PT.
Lula, lembra ele, falou em refundação na época do mensalão, em 2005, e volta a fazê-lo agora.
Para o professor, todavia, ao se analisar a conduta do PT é preciso considerar dados empíricos que apontam para o fato de os movimentos sociais já estarem inseridos no governo. Trata-se da chamada participação cidadã.
Isso, segundo ele, pode ser compreendido como um ponto positivo nesse momento em que o PT tenta se reafirmar sobre suas raízes.
“No Brasil, temos 370 programas sociais (são diferentes das políticas públicas garantidas pela Constituição) que envolvem de 60% a 65% dos movimentos sociais do país. Há 12 anos, esse percentual era de 10% ou 12%. A sociedade está representada. As políticas socias vão bem”.
Fonte: Josué Nogueira

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