Candidato do PMDB ao Governo do RN arrecadou mais de R$ 23 milhões e teve campanha mais cara do Estado
Ciro Marques
Repórter de Política
O depoimento prestado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmando que o presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, era um dos beneficiários dos recursos desviados da maior estatal brasileira, pode não ser o único fato que liga o peemedebista a um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do País. Observando a prestação de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do, agora, ex-candidato ao Governo do RN, é possível constatar mais de 10 doações de empresas também citadas no esquema. O montante doado chegou aos R$ 8,5 milhões.
É importante ressaltar que o “Petrolão”, como ficou conhecido o escândalo, ocorreria, justamente, por meio da doação dessas empresas a candidaturas de políticos do PT, PMDB e PP. As empresas doariam um percentual do valor do contrato – superfaturado – firmado com a Petrobras.
E Henrique, que recebeu mais de R$ 23 milhões em doações durante a campanha (o adversário dele, Robinson Faria, que ganhou a disputa, recebeu R$ 11,8 milhões), teve como maior doadora, justamente, a Odebrecht S/A, uma das citadas no “Petrolão” como beneficiária do superfaturamento e pagadora da propina em forma de doação de campanha.
A suspeita sobre a empresa é tamanha, inclusive, que a Odebrecht – que não tem obras de destaque no RN, nem contratos milionários com o poder público local – é investigada em um inquérito à parte pela Polícia Federal, devido aos indícios de “peculato e lavagem de dinheiro” em sua gestão. A marca foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão realizados pela PF no último dia 14, mas não chegou a ter seus executivos presos.
Contudo, a campanha de Henrique não foi financiada apenas por essa empresa dentre as que foram citadas no “Petrolão”. O peemedebista recebeu recursos também da OAS, da Queiroz Galvão, da Galvão Engenharia e da Andrade Gutierrez.
Desses, destaque para a OAS, que chegou a ter quatro executivos seus presos há duas semanas, na nova ação da PF ainda por desdobramento da Operação Lava Jato. A construtora doou R$ 650 mil para a campanha de Henrique Alves no RN.
A Queiroz Galvão, construtora responsável pelas obras de mobilidade urbana em Natal, foi a que mais doou para o peemedebista depois da Odebrecht. Foram pouco mais de R$ 2 milhões doados pela empresa à candidatura de Henrique.
Galvão Engenharia também apareceu na lista, tendo doado R$ 200 mil para a campanha do PMDB na disputa pelo Governo do Estado. A Andrade Gutierrez, que foi citada, assim como Henrique Eduardo Alves, no primeiro depoimento de Paulo Roberto Costa à Polícia Federal, doou R$ 100 mil para “Henrique Governador”.
CHEQUES
Essas doações, vale destacar, foram feitas todas por meio de cheques enviados ao Diretório Estadual do PMDB, presidido pelo próprio Henrique Eduardo Alves. Boa parte deles, inclusive, enviados já no segundo turno, mesmo diante da ameaça de derrota do peemedebista. A Odebrecht, por exemplo, enviou R$ 3 milhões para a campanha de Henrique já na última semana de campanha. Foram quatro cheques enviados do dia 22 ao dia 26 (um de um milhão de reais, dois de quinhentos mil e um de dois milhões).
A Queiroz Galvão demorou ainda mais. Enviou o último cheque, de R$ 90 mil, já no dia 27 de outubro, um dia depois da campanha eleitoral ter terminado – e Henrique, ter perdido a eleição. Os outros cheques, no valor de R$ 1 milhão cada, foram assinados e repassados ao peemedebista em agosto e setembro.
Além disso, destaca-se que, apesar das quantias volumosas, essas não são as únicas doações feitas por essas empresas ao partido. Representam, apenas, os que foram doados e repassados para os cofres do peemedebista que disputou o Governo do RN.
BANCOS E CONSTRUTORA
É claro que Henrique Eduardo Alves não recebeu doações apenas das construtoras envolvidas no escândalo da Petrobras. Para chegar a R$ 23 milhões, o peemedebista precisou da ajuda de muitas outras empresas. A JBS, por exemplo, responsável pela marca Friboi, doou R$ 2,75 milhões para o peemedebista. A Telemont Engenharia e Telecomunicações foi a terceira maior doadora, com R$ 2,03 milhões.
Apesar dessas duas, os principais doadores da campanha de Henrique são de três segmentos bem específicos: bancos, construtoras e empresas da indústria farmacêutica. Dentre os bancos, exemplos são o Bradesco (quase R$ 600 mil); BTG (R$ 300 mil); Itau (R$ 300 mil) e Barrasul (R$ 150 mil). As construtoras, além das citadas no esquema da Petrobras, destaque para a carioca Christiane Nielsen Engenharia (R$ 300 mil) e MAF Projetos e Obras (R$ 200 mil). Da indústria farmacêutica, destaque para a Recofarma (R$ 400 mil) e Macer Droguista (R$ 32 mil).
ALIADA
É importante lembrar que Henrique não foi o único a receber doações de campanha de empresas envolvidas no chamado “Petrolão”. A companheira dele de chapa, Wilma de Faria (PSB), que foi candidata ao Senado Federal, também teve parte da campanha financiada por empresas suspeitas. Foram quase R$ 3,5 milhões doados por elas.
Queiroz Galvão e OAS têm contratos milionários com Governo e PMN
Responsável por garantir mais de R$ 2,6 milhões da campanha milionária de Henrique Alves ao Governo do RN, a Queiroz Galvão e a OAS são “velhas conhecidas” do eleitor natalense e potiguar – e não ganharam fama apenas pelo envolvimento no escândalo da Petrobras. Afinal, as duas construtoras foram as contratadas para realizar grandes obras públicas em Natal para deixá-la pronta para a Copa do Mundo.
O contrato da OAS é mais antigo e data de 2011, quando ela foi a escolhida para construir a Arena das Dunas. Alias, escolhida não seria bem a palavra, afinal, a OAS foi a única que apresentou proposta para construir o estádio – apenas ela e a Queiroz Galvão se inscreveram, mas esta não apresentou proposta alguma.
Competindo sozinha, então, a OAS venceu a licitação e entregou um estádio de R$ 396 milhões. A obra, no entanto, custará mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos estaduais. Afinal, o Governo precisou fazer um financiamento junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para pagar o estádio e, devido aos juros, a obra custará essa quantia.
Além disso, a OAS também terá direito de explorar a Arena multiuso durante 30 anos e, caso não tenha o lucro esperado por meio da venda de ingressos e aluguel, o Executivo Estadual pagará o restante que falta para a empresa. O contrato, de tão vantajoso para a OAS, já virou até motivo de inspeção e crítica por parte do Ministério Público de Contas, que não compreende porque o Governo do Estado firmou tal parceria tão pouco rentável.
No caso da Queiroz Galvão, a contratação é mais recente – e menos polêmica. A empresa foi contratada em setembro de 2013, para viabilizar as obras de mobilidade urbana do entorno da Arena das Dunas. Foram cinco túneis e dois viadutos ao redor do estádio. No total, a obra custou R$ 222 milhões para os cofres públicos da Prefeitura de Natal.
É importante lembrar que capital do Estado começou essas obras de forma muito tardia e, quase, perdia o recurso disponibilizado por meio do Governo Federal através da “Matriz da Copa”. A perda só não foi concretizada porque Henrique, como presidente da Câmara Federal, teria utilizado sua influência em Brasília para agilizar o processo e viabilização as ações de mobilidade urbana.
Candidato do PMDB arrecadou R$ 23 milhões e gastou R$ 26 milhões
A campanha de Henrique Eduardo Alves foi a mais rica do Rio Grande do Norte. Contudo, mais do que rica, ela foi também a mais cara do Estado. Explica-se: “Henrique Governador” arrecadou R$ 23 milhões, mas gastou R$ 26 milhões. Ou seja: o peemedebista teve R$ 3 milhões a mais em despesas do que o valor arrecadado durante o período eleitoral.
Dentre as despesas da campanha de Henrique, destaque para duas: os gastos com marketing e produção de vídeo. A Art & C Marketing Político, empresa da família da mulher do peemedebista, consumiu R$ 1,2 milhão do que foi arrecadado pelo candidato para a campanha. Os valores foram pagos na última semana antes da votação de segundo turno.
A Art & C, no entanto, não representou uma despesa tão grande quanto a da Assaf e Souza Comunicação. A empresa, do marketeiro Adriano de Souza, responsável pela produção dos programas de rádio e televisão de Henrique, custou R$ 3,6 milhões para os cofres da campanha. Desse total, R$ 1,3 milhão foi pagos, apenas, nos últimos quatro dias antes da votação em primeiro turno. Até porque o marketeiro acabou sendo dispensado no início do segundo turno e não participou da reta final da disputa pelo Governo do RN.
E vale destacar que Henrique pagou também a Gillliano Midson de Paiva Souza ME e a Lua Nova Produções LTDA pelos vídeos e programas de televisão que foram ao ar durante a disputa eleitoral. A Gillliano, a campanha de Henrique pagou R$ 300 mil. A Lua Nova, foram mais R$ 650 mil. Somando tudo, pode-se dizer que o peemedebista gastou quase R$ 5 milhões só com propaganda eleitoral na TV e no rádio nesta campanha.
Henrique gastou R$ 1 milhão com pesquisas do Ibope, Consult e Item
A campanha de Henrique Eduardo Alves gastou muito com marketing e produção de programas eleitorais. Contudo, dentre a extensa relação de despesas dele, não é só isso que salta aos olhos. Durante os quase 4 meses de disputa eleitoral, o peemedebista gastou também, e muito, com “pesquisas ou testes eleitorais”. Dentre os institutos recebedores da campanha do candidato a governador, destaque para o Ibope, Consult e Item.
O que mais chamou a atenção desses três, no entanto, foi o Ibope. Afinal, para quem não lembra, foi esse instituto que publicou, no início do segundo turno, uma pesquisa eleitoral que colocou Robinson Faria na frente. Os números acabaram sendo utilizados exaustivamente pelo marketing do adversário, para aumentar o sentimento de vitória em torno dele. A Henrique restou divulgar vídeo pedindo aos eleitores não se deixarem “abalar” pelo levantamento, afirmando que o Ibope “também erra”.
Além do Ibope, Henrique também pagou a Erivaldo Trindade de Araújo (nome de registro do Instituto Item), Consultoria e Pesquisa Técnica (Consult) e Marcia Câmara de Figueiredo (popularmente conhecida como Perfil) por “pesquisas ou testes eleitorais”. A Perfil, por sinal, foi a que mais recebeu da campanha de Henrique, mas foi a única que não divulgou pesquisa aberta durante toda a campanha – Consult e Item fecharam também com veículos de comunicação durante a eleição. De qualquer forma, o fato é que a Perfil recebeu R$ 354 mil de Henrique, em montantes que variaram de R$ 6 mil (no dia 21 de outubro) a R$ 53 mil (no dia 1º de outubro).
A Erivaldo Trindade, também conhecido como Item, recebeu outros R$ 60 mil de Henrique. O instituto, inclusive, gerou polêmica ao divulgar uma pesquisa a pedido de um blog local onde o resultado deu Wilma de Faria (aliada de Henrique) empatada com Fátima Bezerra (aliada de Robinson) na disputa pelo Senado nas vésperas da eleição em primeiro turno. Quando abriram as urnas, a vantagem de Fátima foi de mais de 160 mil votos.
A Consultoria e Pesquisa Técnica, que os eleitores conhecem também como Consult, foram outros R$ 109 mil. Vale lembrar, que a Consult também chegou a divulgar pesquisas de intenção de voto durante o primeiro turno a pedido de veículos de comunicação. E, em todos os levantamentos, o peemedebista Henrique esteve na frente com ampla vantagem.
POLÊMICAS
Destaque que, neste ano, as pesquisas eleitorais chamaram bastante a atenção pela disparidade de um resultado com outro e, principalmente, pela diferença entre os números previstos e os que se confirmaram nas urnas. Tanto foi assim que Robério Paulino, candidato do PSOL, chegou a ingressar com uma representação no Ministério P úblico solicitando a abertura de inquérito para apurar o caso. Robério não teve mais de 5% das intenções de voto em nenhum levantamento, mas chegou a quase 10% quando as urnas foram abertas. http://jornaldehoje.com.br/