No próximo dia 16 de março, o ciclo de dois anos do
atual Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados se
encerra. Ao todo, 21 deputados escolhidos para julgar denúncias de quebra de
decoro parlamentar deixam o posto com o balanço de sete julgamentos e nenhuma
cassação.
Os casos julgados pelo conselho nos dois últimos anos foram os do
deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP, por suposto envolvimento em
superfaturamento de contratos e recebimento de propina no Ministério dos
Transportes, entre outras denúncias), Jair Bolsonaro (PP,-RJ, acusado de
racismo e homofobia), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP, acusado de envolvimento com
o "araponga" de Carlinhos Cachoeira), Marcos Medrado (PDT-BA, acusado
de venda de emendas), João Carlos Bacelar (PR-BA, acusado de vender emendas e
de nepotismo) e Jaqueline Roriz (PMN-DF, acusada de corrupção no mensalão do
DEM no DF).
Costa Neto, apesar de ter sido absolvido no conselho, pode perder o
mandato devido à condenação pelo STF no julgamento do mensalão. Bacelar se
licenciou da Câmara em fevereiro deste ano, tendo sido substituído por Colbert
Martins (PMDB-BA).
De todos os casos julgados nesses dois anos, apenas no de Jaqueline
Roriz o conselho deu o parecer pela condenação. Mas de nada adiantou – o
plenário ignorou s recomendação e absolveu a deputada.
Para o atual presidente do Conselho de Ética, o deputado José Carlos
Araújo (PSD-BA), o órgão cumpre o papel fiscalizador. Ele diz que algumas vezes
os pedidos dos deputados são um pouco exagerados. "Quando você pede saúde
para Deus, pede pouca ou muita? Quando entram com representação no conselho,
pedem sempre a cassação. Temos que ponderar aqui", afirma.
Araújo ressalta que o Conselho de Ética é mais rígido que o plenário
"pela votação ser aberta no conselho e fechada no plenário. A gente não
sofre mais pressão, mas acaba fica mais exposto nas nossas decisões",
fala.
"Decepção".
Das sete representações enviadas ao Conselho de Ética nos últimos dois
anos, seis foram feitas pelo PSOL. De acordo com o deputado Chico Alencar
(PSOL-RJ), há um sentimento de decepção com a atuação do conselho. "Pela
atuação dos últimos anos, percebe-se facilmente que o conselho virou algo para
a Câmara dizer que tem preocupação com o decoro do que realmente tomar atitudes
punitivas", diz.
Alencar ressalta que há um acordo tácito para se preservar parlamentares
que foram a julgamento. "Sem dúvida há corporativismo. Depois que o
conselho julgou o mensalão (em 2006), nota-se um afrouxamento nos casos levados
pelo parlamentares", diz.
Para o cientista político Émerson Cervi, a própria estrutura dos
conselhos de ética não favorece a fiscalização: "Na prática, os conselhos
são meras formalidades. O peso da fiscalização entre pares é sempre
pró-absolvição. O formato atual é ideal apenas para os parlamentares".
Para o cientista político, o índice de absolvições é grande em todos os
conselhos de classe, mas o conselho da Câmara deveria ser mais rígido.
"Exige-se dos parlamentares um comportamento diferente por estarem em uma
instituição pública e não de classe. No entanto, não é o que acontece",
afirma. Cervi. Ele complementa que a fiscalização dos parlamentares não deveria
vir de dentro: "O órgão fiscalizador do parlamento é o eleitor. Se não
ele, o judiciário".
Neste ano, o Conselho de Ética deve avaliar o caso dos deputados Carlos
Alberto Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, e Devanir
Ribeiro (PT-SP). E, caso o STF não casse os parlamentares condenados no
julgamento mensalão, o pedido de cassação de José Genoino (PT-SP), João Paulo
Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) deve passar
pelo Conselho de Ética.
Chico Alencar diz que é possível que os condenados pelo mensalão não
percam o cargo. "Do jeito que o nosso Conselho de Ética caminha com
espírito de corpo, não duvido que absolvam parlamentares condenados pela
justiça. Esse paradoxo obviamente geraria um desgaste na casa. Seria uma
história bizarra", completa.
Fonte: Edgard Matsuki/UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção: só serão respondidos os comentários que estiverem acrescidos dos EMAILS e de seus autores. A informação é importante para efetivar a correspondência eletrônica com MAJNOTICIAS.Os comentários são de responsabilidades de seus autores.